Durante o ano de 1942, era evidente para todos que o ónus da deterioração das condições de vida estava a pesar na vida dos portugueses e em especial sobre os trabalhadores rurais. O agravamento da inflação, a falta de géneros, as crescentes disparidades sociais entre uma classe de novos-ricos alimentados pelos expedientes da Guerra e pela “economia” do volfrâmio, tudo isto estava a gerar um clima de pobreza generalizada na sociedade portuguesa.
É atendendo a este retrato social nacional, mas com reflexos e contextos locais bem fortes e claros, que a família Souza Baptista vai criar, em 19 de Abril de 1942 com inauguração oficial em 28 de Junho, a Casa do Povo de Valongo do Vouga, como primeira resposta social para uma população fortemente rural, empobrecida, analfabeta, sem apoio médico regular, sem respostas ao nível da infância, das famílias carenciadas e da velhice.
Define como primeiras metas de intervenção o apoio à infância, o combate ao analfabetismo, à pobreza e à melhoria da saúde das populações, pelo que:
- Em 31 de Maio de 1942 contrata dois médicos para acompanhar e prestar apoio à população da freguesia;
- Em 15 de Fevereiro de 1943 recebe autorização do Instituto Nacional do Trabalho, através da sua delegação de Aveiro, para atribuir subsídios para o nascimento de crianças, casamento, fornecimento de medicamentos, lactação e livros; lançando assim as bases de apoio à população valonguense e das freguesias serranas vizinhas.
- Percebendo que uma população só se desenvolve se melhorar o seu nível de formação e educação, diminuindo o grau de analfabetismo e melhorando o apoio à infância, a Casa do Povo de Valongo do Vouga vai abrir à população em 17 de Junho de 1951 uma Cantina Escolar, onde dezenas de crianças “pobres” vão receber diariamente uma refeição quente. No mesmo ano será lançada as bases de uma Biblioteca Pública, pelo que, e mais uma vez, vai receber apoio financeiro e parte do espólio da Biblioteca Paroquial adquirida pelo Sr. Souza Baptista e entregue a esta instituição.
As sucessivas direcções têm mantido a instituição em ininterrupto funcionamento, permitindo assim dar continuidade, de forma adaptada à realidade da época que se vive, a obra do benemérito e fundador, Joaquim de Souza Baptista.
- Culturalmente, a Casa do Povo de Valongo do Vouga inicia em 1943 a construção da primeira sala de espectáculos da freguesia e leva à cena em Outubro desse ano o seu primeiro êxito cultural “Valongo à Vista” – revista de costumes regionais, em dois actos, doze quadros e um prólogo. Ainda dentro deste sector, a Casa do Povo dando aplicabilidade ao subsídio e donativo da família Souza Baptista cria em 22 de Abril de 1945 uma Banda de Música.
- Em meados dos anos quarenta a Câmara Municipal de Águeda acelerava a electrificação de parte do concelho; para tal concessiona esse serviço a cooperativas eléctricas de âmbito local. A freguesia de Valongo era altamente deficitária e só as zonas centrais tinham energia eléctrica.
- Souza Baptista vai adquirir a totalidade das quotas da Sociedade Eléctrica de Valongo do Vouga, Lda., e comprar os direitos de concessão de distribuição da energia eléctrica para a freguesia de Valongo do Vouga, para a 9 de Setembro de 1952 oferecer, através de escritura de doação, a concessão da REDE ELÉCTRICA à Casa do Povo de Valongo do Vouga, dando origem ao nascimento da sua Cooperativa Eléctrica. Na referida escritura pode ler-se “ (…) a Casa do Povo de Valongo do Vouga fica obrigada a empregar o produto líquido da exploração da concessão da rede eléctrica, na sustentação ou ajuda a sustentação da cantina escolar ou a empregar aqueles rendimentos exclusivamente em fins de previdência da Casa do Povo.
- No início dos anos setenta, 1971, com as verbas da Rede Eléctrica, constrói um Posto Médico, que para a época foi modernamente equipado, edifício que cedeu gratuitamente ao Ministério da Saúde; sendo, ainda hoje, este o único Posto Médico em funcionamento numa área geográfica com mais de 8 mil habitantes e servindo três freguesias: Valongo do Vouga, Préstimo e Macieira de Alcôba.
- Em meados dos anos oitenta, 1986, a Direcção, atenta à necessidade de recolher e preservar o seu património cultural e etnográfico, funda o Rancho Infantil e Juvenil da Casa do Povo de Valongo do Vouga.
- Nos finais dos anos oitenta, 1989, a Direcção vai criar em parceria com a Segurança Social um Centro de Actividades de Tempos Livres e apoiar a Escola EB1 de Arrancada do Vouga na abertura de uma nova Cantina Escolar. Esta, em meados dos anos noventa, vai passar para o domínio da Junta de Freguesia de Valongo do Vouga.
- Durante os anos noventa a Direcção vai investir fortemente no apoio à infância, criando e desenvolvendo estratégias no sentido de servir a sua população infantil, para tal contrata uma técnica licenciada para o acompanhamento das crianças em ATL, dá formação ás auxiliares, equipa um novo espaço com materiais adaptados às necessidades das crianças, constrói um Parque Infantil de acordo com as regras de segurança em vigor e recebe da Segurança Social uma viatura de nove lugares para o transporte das crianças de casa para a escola e mais tarde para a instituição.
- Com a população idosa a aumentar significativamente, inicia em 1998 o transporte regular de pessoas idosas para o Posto Médico, respondendo assim aos seus associados mais carenciados.
- Em Setembro de 1999 abre ao público uma sala de Convívio de Idosos, espaço que ainda mantém em funcionamento.
- Em Março de 2000 abre um Centro de Dia para Idosos, e adquire uma viatura adaptada para o transporte dos mesmos.
- No inicio do ano dois mil vai reconverter e construir uma nova sala de espectáculos obedecendo às mais modernas normas de segurança e funcionamento, tendo para o efeito apresentado candidatura À Direcção Geral das Autarquias Locais, do qual recebeu financiamento, bem como da Câmara Municipal de Águeda. Neste momento este espaço – Auditório da Casa do Povo, serve para o trabalho da sua companhia de teatro juvenil, sala de espectáculos e auditório para eventos culturais e sociais.
- No ano de 2005 constrói um pavilhão multiusos de modo a responder as necessidades de cada uma das suas valências culturais, desportivas e sociais.
- Nos finais de 2005 inicia a construção de um novo espaço comercial e onde serão integrados os Serviços Administrativos e as valências da Secção Eléctrica, Armazém e Lavandaria.
- Durante todos estes anos a Casa do Povo tem apoiado e incentivado as mais diferentes iniciativas promovidas pelos agentes culturais, artísticos, desportivos e sociais da freguesia de Valongo. Desde a Associação Desportiva Valonguense, o Grupo Desportivo Amador, O Grupo Desportivo Arrancadense, pioneiro na prática do futebol na freguesia de Valongo, o NAC (Núcleo de Acção Cultural) com o seu trabalho ligado ao teatro; todos eles viram as suas realizações ou necessidades pontuais apoiadas pela Casa do Povo.